segunda-feira, 30 de março de 2015

Um recomeço chamado: escritores que continuam não escrevendo

A luz do meio-dia afagava meu rosto. Rosto manchado de tantas primaveras, de tantas quimeras, de tantas noites em claro. O rímel exagerava minhas olheiras, deixando minha aparência ainda mais cadavérica.
Levantava tropegamente. A ressaca se mostrava um monstro a querer me consumir. Saia. Pegava um ônibus. Não assim, tão facilmente... mas merecidamente talvez. Chegava em casa. E o quê? Morria.
Eu assistia, como algo fora de mim, todos esses momentos. Só me restava uma certeza: era um filme ruim. Por quê? Não porque faltava emoção ou ação. Mas porque em todos os momentos, o protagonista estava sempre na mesma.
E quem é que gosta de não estar na pele de Caulfield? Quem é que gosta de atravessar a estrada e, de repente, ver o outro lado?
Parei. Isso não devia ser viável a meu ser.
O que é meu ser? Quem é meu ser?
Se sei que não vale uma vida, a minha vida, aquela vida... o que sei? O que isso me torna?
Só penso: algo vale a minha vida? Algo vale saber o que me sei?
Só penso: talvez nada saberei.

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