terça-feira, 9 de junho de 2015

É a sua vez de jogar

As pessoas,
egoístas, cegas ou mesquinhas?
Elas vêem a si e suas necessidades.
E se olham para os outros,
são apenas cegas.
E covardes.
Elas jamais olharam para o mundo.
Quão devastador é esse olhar?
É a sentença de morte para a crença.
E o fim do desejo de.
Então, você estará só.
E não conseguira mais suportar o teatro
da vida, já não é mais marionete.
Estará à esmo e mesmo se desejar aportar,
nenhum porto o aceitará.
E o mar? Ah, o mar...
é cheio de merda e lixo e sorrisos superficiais.
Então, você viverá vagando,
olhando a encenação
e desejando encontrar alguém de verdade.
Mas, quando você encontrar,
perceberá que não tem como remediar isso.
E você continuará sozinho com outra pessoa.
Não satisfeito com toda essa confusão,
você desejará tocar realmente em um ser humano.
Estar em contato e sintonia.
Por puro desespero porque,
você bem sabe,
isso é impossível.
Só lhe resta suportar à esmo,
ou descer pela janela.

Então, quer tentar?

sábado, 6 de junho de 2015

Julian fuckin Casablancas

Estava em todos os momentos tentando encontrar algo para jogar a âncora. Ele estava ali cantando, de forma maravilhosamente mágica - parecia ser o deus esquecido em todas as épocas. Ouvindo tanto e todas as vezes, não posso refutar o fato de que ele é um deus esquecido em outras eras. Reconhecido agora, ele desfruta de tudo o que a tecnologia trouxe. Mas ele não pode ser meu deus. Ele jamais irá conhecer essa serva que lhes escreve. Não por merecimento, simplesmente porque a vida nos pôs, geograficamente, em lugares "inestratégicos".
Mas já não me importo. O fato de saber que ele é deus, e que ele consegue traduzir em uma simples música, ou em todas elas, ou em nenhuma delas se ninguém entender, o que é ser humano, como é ser humano, e o que é sentir todas essas peculiaridades que isso traz... me traz um certo conforto n'alma.
E se nada disso for real, por que chamá-lo de deus?

terça-feira, 2 de junho de 2015

Do plano imaginário e outros delírios

Ela sentou no meio do campus e esperou que a vida fizesse sua parte. Não era um grande papel, convenhamos, apenas uma oportunidade - que era vital.
Como proceder quando se deseja entregar a alma nas mãos de alguém, chamar seu nome sabendo que ele não tem a real consciência de sua existência? Lançar-lhe aquele olhar intenso ao sorrir e esperar que ele se interesse? Descobrir seus horários e o seguir em todos os lugares esperando  receber um resultado satisfatório e não uma ordem de restrição? Nenhuma resposta que encontrava para essas perguntas a deixava tranquila, todas pareciam difíceis demais. Ela queria, sinceramente, muito mais que um papel coadjuvante para a vida, torcia secretamente que esta atuasse no papel principal.
E enquanto torcia, rezava e esperava pacientemente, sentindo frio na barriga a cada barulho distante, sua imaginação se responsabilizava por todos os gestos dele, o sorriso largo e sereno quando encontrasse o olhar tímido dela, os passos lentos e certeiros que ele daria ao aproximar-se dela, como se ela fosse um solo frágil - e era. Seguraria as mãos dela, que levantaria prontamente. Então ele  a olharia com carinho, seguraria seu rosto com as duas mãos e acariciaria sua maçã do rosto esquerda com o polegar direto. E beijaria sua boca com lábios quentes e úmidos e macios, vagarosa e delicadamente no início, então ambos estariam em chamas e o beijo assumiria um tom mais sublime.
A visão foi tão real que ela sentiu cada toque em seu corpo.
Abaixou-se e arrancou uma flor amarela, do tipo mais comum possível. Sem cheiro. Delicada. Apagada. Alguém como aquela flor certamente teria uma história como essa. Mas ela não era apagada, tinha cor - sangue. E se sabia tão delicada quanto um estilete, ora sangrando a si mesma, ora sangrando o outro. Então se recordou de Caio em A dama da noite. Aquela sim poderia ser a história dela, mas não essa... pronta para qualquer protagonista de romance adolescente que possui um vazio em tudo.
Sem chapéu molhado e capa de gabardine, ele passaria ao lado do banco, lembraria dela de alguma aula em comum. Sentaria e conversaria despretensiosamente, afinal quereria apenas matar tempo. Ele perceberia a compatibilidade entre eles. Notaria nela uma intensidade que lhe traria satisfação, perceberia também uma vitalidade e uma veracidade, jamais haveria percebido isso em outra pessoa. Se tornaria ainda mais curioso.
Ela apenas confirmaria o que previa. Convidaria ele para um bar. Eles iriam.
A conversa se tornaria ainda mais interessante, coisa que me entediaria - o imaginário me convém. Inevitavelmente seus lábios  se encontrariam em íntima vibração de desejo, ao som de Jigsaw falling into place. "I never really got there. I just pretend that I had".
Em cinco minutos estariam certos de que tudo é permitido - como sempre será, e concordariam em ir para a casa dela. Mal a porta se fecharia em suas costas e ambos estariam semi-nus frente a frente. Seus corpos ferveriam mas não poderiam sublimar sozinhos, e o desejo em seus olhos queimaria feito brasa. Se tocariam desesperadamente. Cairiam na cama e não sobraria muito tempo para preliminares. Seriam apenas alguns toques, língua e lábios. O desejo seria tão contundente que consumar o ato seria inadiável. Ela empurraria ela na cama e rapidamente estaria sobre ele. Ele ficaria desconsertado com essa iniciativa, mais isso apenas aumentaria seu desejo. Ela não pensaria sequer uma vez antes de introduzir o pênis dele em sua vagina, e iniciaria os movimentos lentamente, num vai-e-vem quase delicado, mas o tesão se apossaria dela de tal maneira que seria impossível ter calma,e seus movimentos se tornariam cada vez mais rápidos e mais intensos. E eles tornariam a ser mais lentos, apenas para que o sexo se prolongasse. Seria um desejo dividido entre o a ânsia de ganhar o prêmio e a necessidade de que a deliciosa expectativa se prolongasse tanto quanto possível.
Ele estaria curtindo tanto quanto ela, mas sentiria a necessidade de estar no comando, porque aprendera que todo homem tem esse dever. Seguraria sua cintura firmemente, sem machucar, e com o tesão como fonte de impulso a deitaria na cama enquanto rolaria para assumir sua posição. Seus movimentos também alternariam entre rápidos e lentos, pelos mesmos motivos. Quereria cada vez mais se apossar de cada cm² do corpo dela, enquanto suas mãos percorreriam por toda a extensão daquele corpo e sua língua sentiria quão febril aquele ser se encontraria.
E a cada momento trocariam de posição, com o desejo oscilando entre gozar e estar ali para sempre. Mas saberiam que o para sempre jamais existiu, e alcançariam o ápice do prazer enquanto ela estava de quatro e ele teria aquela maravilhosa visão de sua bunda.
Cairiam exaustos lado a lado, com a sensação de que viver valeu a pena simplesmente pela existência desse momento.
Então eu a vi realmente, fora do plano imaginário. Eu a vi em toda a sua verdade. Ela estava deitada em seu pequeno apartamento, convulsionando em sua cama enquanto seguia lentamente para o coma. Ao seu lado haviam apenas cartelas vazias e um lençol velho banhado em lágrimas.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Prendia o choro.

Ela estava sentada enquanto Cazuza lhe contava sobre o beija-flor. Mas que merda é essa, ela se perguntava. Um codinome para esconder o que de quem? Cazuza era libertário. Ela era libertária. Mas o beija-flor não. Para que se relacionar com alguém assim? Então entendeu. A paixão não questiona. Não olha se alguém que se quer é alguém que lhe condiz. E percebeu que em toda a sua vida não se apaixonou por alguém que condizia. E só queria saber o que isso implicava. Talvez, nunca saiba a resposta, já que não se escolhe quem lhe faz as borboletas voarem.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O mal de Caim

É noite e está frio. Uma das lâmpadas está queimada, dando um aspecto fúnebre à pequena casa desajeitada. Ela estava tomada por pensamentos desconexos. De repente ela conectou todos eles...
                                                                           .mãe
                                                                            .pai
                                                                          .irmãs
                                                                       .sobrinhos
                                                                       .namorado
                                                                       .amizades
                                                                       .confiança
                                                                     .autoeficácia
                                                                         .timidez
                                                                          .pânico
                                                                      .introversão
                                                                          .morte
...e de repente a estranha e também dolorosa sensação de que iria sucumbir frente à complexidade da vida tomou conta dela.
Todas as coisas foram questionadas, ela sabia que era inevitável. Seus relacionamentos passados, aquelas amizades lindas que ficaram para trás. Os amores não correspondidos. As palavras não ditas - malditas.
Resolveu dormir. Não conseguiu. Ligou o computador. Lembrou de seu amigo, grande amigo, que tanto lhe magoou. Tanto tanto tanto. Isso já estava longe, mas ele resolveu, recentemente, falar com ela. Como se nada tivesse acontecido. Nunca. Ela, já alterada na ocasião, esqueceu da indiferença. Agora ela só lembrou de uma fase: "e o diabo sempre, o diabo sempre, sempre, sempre vem para mais um drink."

terça-feira, 7 de abril de 2015

Dos delírios cotidianos

Ele me desejou boa tarde.
Eu sentei em meu banco com uma blusa solta e lingerie preta.
Ele demonstrou os procedimentos de bordo.
Eu o desejei... minha blusa baixou deliberadamente, deixando a mostra o que o soutien não escondia.
Ele passou verificando as poltronas... olhou para meus seios, sem planejar.
Eu nos imaginei no banheiro.
Ele passou fazendo o serviço de bordo. Lentamente. Educadamente.
Eu o acolhi com um sorriso aberto quando chegou minha vez.
Ele corou.
Eu me lamentei.

Afinal, aquelas coisas que aconteceram no banheiro ficarão para sempre no plano imaginário.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Um recomeço chamado: escritores que continuam não escrevendo

A luz do meio-dia afagava meu rosto. Rosto manchado de tantas primaveras, de tantas quimeras, de tantas noites em claro. O rímel exagerava minhas olheiras, deixando minha aparência ainda mais cadavérica.
Levantava tropegamente. A ressaca se mostrava um monstro a querer me consumir. Saia. Pegava um ônibus. Não assim, tão facilmente... mas merecidamente talvez. Chegava em casa. E o quê? Morria.
Eu assistia, como algo fora de mim, todos esses momentos. Só me restava uma certeza: era um filme ruim. Por quê? Não porque faltava emoção ou ação. Mas porque em todos os momentos, o protagonista estava sempre na mesma.
E quem é que gosta de não estar na pele de Caulfield? Quem é que gosta de atravessar a estrada e, de repente, ver o outro lado?
Parei. Isso não devia ser viável a meu ser.
O que é meu ser? Quem é meu ser?
Se sei que não vale uma vida, a minha vida, aquela vida... o que sei? O que isso me torna?
Só penso: algo vale a minha vida? Algo vale saber o que me sei?
Só penso: talvez nada saberei.